MHAM - Museu de História e Artes de Morretes

CICLOS DE EXPOSIÇÕES

03 - Ciclo do Ouro, outros minerais e pedras preciosas

(Página em construção!)

Obs.: Foi mantida a ortografia empregada por Antonio Vieira dos Santos e textos conforme constam na edição de 1950 abaixo citada.

2 – Por onde se entra no conhecimento de que esses primeiros  aventureiros, entrados nas Bahias Paranaguéenses, entre os annos de 1.555 a  1560 com razão se estabelecerão naquella Ilha, que sendo rodeada de mar, lhes  offereçia d’hum segûro asylo na sua própria deffeza, do que a do Continente de  terra firme, nas margens dos rios e naquelle lugar permaneçerião alguns annos,  té que chegassem a conseguir a harmonia, e boa amizade com aquela Nação, e sua própria segurança e estabilidade, e depois que isto vierão a conseguir, se resolverão a passar á terra firme, em nôvas descobertas da navegação dos  rios, mineralogia de Oiro e prata, e no interior das máttas e Sertões incûltos, aquem e além das grandes Cordilheiras; nestas indagações forão descobertas as  abundantes minas de Oiro do Rio de Gorguássu, nas escavações que andavão  fazendo em todas as margens dos Rios ou porque os índios lhas mostrasem,  sendo a descoberta destas minas hua das primeiras que se fizerão na costa do  Brazil, e ha tradicção que se remetera a El Rei de Portugal, hum frasco cheio  dêlle e como memória, ou premiçias desta descoberta, evidentemente se conheçe que çirculada a fama de hua tão preçioza descoberta, qual não seria o  grande numero de Emmigrados de diversos lugáres desta, e de outras Capitanias do Brazil; com hua notiçia de tanta fáma, qual erão as famozas minas  de Paranaguá;  como depois o forão, as das Minas Geraes, Cuyabá, e Matto  grôsso, e prezentemente as da California. A ambição dos homens os incita a  adquirirem as riquezas sem o maior trabalho, e por isso sendo a concurrençia  immensa de estrangeiros, accumûlados, no circulo do litoral das minas, e não cabendo o terreno onde todos pudesem francamente trabalhar, de nessecidade  deverião continuár seus descobrimentos, em derredôr das Bahias penetrándo  as navegações dos maiores Rios, té a sua nascénça, e entre estes seria hum dos primeiros o do Cúbatão, Rios do Guarúmbi, e do Pinto, conhecedôres de  que nas varzeas, e fraldas das altas Sérras, he onde nasçem as veias, com betas  deste preçiôzo metal, como nasçidas no coração da madre terra, lançando-as á grandes espaços a differentes direcções bem a maneira do côrpo humano que do Coração delle nascem todas as veias e suas ramifícaçõens que se espalhão  por todo o Côrpo e constando nas historias Brazileiras que antes do anno de 1578, já muito se trabalhava nas minas de Paranaguá, devendo-se considerár a pesquização, e o descobrimento do Rio Cubatão, alguns annos anteriores, a esta dacta, e talves com a melhor segurança de calculo no anno de 1570 até 1572 encontrándo nas varzéas dos terrenos deste Muniçipio ser todo o seu Sólo mûi riquissimo e acobertado de hun geral tapete, aurifero, porque em  qualquer parte que escavássem aparecia o Oiro em faisqueiras, e assim forão descobertas muitas minas nos Rios Marumbi, do Pinto do Cubatão, no pau  vermelho, no Pantanal as do Penajôia, Carêica, Limoeiro, as do Rio do Pinto do Ribeirão do Cangu e Uváporundûba, estes ávidos descobridôres todos os morros médios, e pequenos te mesmo os Alpinos chegando té mudar o curso ordinario que a natureza tinha dado, à direcção dos rios e ribeirões como o  fizerão no do Rio Marumby no lugar que inda hoje, se chama a agoa virada. Não satisfeita sua avidez ambiçionaria aquem das Serras forão penetrando o ingresso de suas mattas ao rumo de Sul na direcção que hoje hé da Estrada do Arraial, investigando os môrros da Serra velha o das Crûzes do Ribeirão  dos Padre: do Palmital, e Santa Anna, e finalmente descobrirão outras grandes  minas no lugar do Arraial e sucçessivamente, se forão alongando cada ves mais, estes descobrimentos e pesquizações, sendo por isso o tranzito, e a abertura do  pique forte na direção de Subir a Serra pela Estrada hoje chamada do Arraial de S. Jozé dos Pinhais, a primeira que estes Colônos puderão descobrir para o  transito da communicação geral dos Pôvos da marinha com as çentraes.

O porto de embárque tinha seu prinçipio no porto do Rio do Pinto: no  lugar que depois fes Çitio Theodora da Costa (Nota 3) e deste pônto passava ao páo  vermelho, e pelo terreno das lavras chamadas do pantanal, e limóeiro, de onde  se subião os môrros de Brajâutuba, da Serra velha da Fartura, do páu Ôcco, e do  palmital sahindo no lugar denominado inda hoje o Arraial.
3. – Outros investigadores; pelos mesmos annos ou depois delles,  examinando, examinándo, os grandes rios que dezaguão na Bahia da  Villa Antonina; sendo entre elles o da Faisquéira, que inda em memoria  de encontrarém nelle este metal conserva o proprio nômes derivado dos  trabalhadores faiscantes; estes talvés possuidos das mesmas ambiçõens de  adquirir riquezas, e querendo subir a Serra abrirão o pique della que hoje hé  chamado da – Graçioza – para servir de transito Geral de communicação em  razão de seu lócal ser de hua facil e doce subida, e por este motivo, desde sua  antiguidade tem sempre o Governo Central e os Generaes e Presidentes da  Provincçia e as Camáras de Curitiba e de Antonina, a que tenha a preferénça a todas as mais; em sua reparação, e abertura, o que por vezes se tem feito, mas o viandantes geralmente repugnão, o seu tranzito, e tendo-se nella feito muitos Sacritiçios, onérôzos aos pôvos, deste Muniçipio, adjûnto aos da Villa Antonina, nas aberturas e suas reparações todos tem sido inutelizados, té o prezente.

Nota 3 - O antigo porto do Padre João da Veiga, e depois denominado de Theodora da Costa  em razão desta mulher ahi fazer seu estabeleçimento foi este lugar o primeiro pôrto de embarque e dezembarque da Estrada do Arraial, hoje estaria hua povoação florescente se os Morretes não lhe  tomasse adianteira a ser ali o porto geral do Contracto das passagens do Cubatão floreçendo este, e fenecendo aquelle.

SANTOS, Antonio Vieira dos. Memória Histórica Chronológica Topographica, e Descriptiva da Villa de Morretes e do Porto Real Vulgarmente Porto de Cima. Secção de História do Museu Paranaense. Curitiba, Dezembro de 1950. pág. 11 a 13.

 

MHAM - Museu de História e Artes de Morretes
Contato