(Obs.: Foi mantida a ortografia empregada
por Romário Martins e textos conforme constam na edição de 1937 abaixo
citada.)
2 - O COLONISADOR IBERICO
O território hoje paranaense foi primeira e efetivamente
povoado, após o descobrimento, por portuguêses e espanhóes e seus descendentes vindos das vilas da capitania paulista, de S. Vicente, Piratininga, Paraíba do Sul, etc..
Dizemos "efetivamente" porque os primeiros a ocupar terras do Paraná atual foram espanhóes do Paraguai conforme se verá do capítulo referente ao povoamento de Guaíra. Esse povoamento, porém, não teve continuidade histórica, dele restando, desde as primeiras decádas do século XVII, apenas as ruinas de suas pequenas cidades.
Há que dar, pois, preferencia àqueles que fundaram as nossas duas primeiras povoações orientais, até os nossos dias existentes, que foram Paranaguá no litoral e Curitiba no planalto, descendentes, como ficou dito, dos dois povos ibéricos que entre si partilharam o centro e o sul do Novo Mundo.
O Português faz parte da série de tipos antropológicos classificados sob a denominação de tipos Europeus Morenos, com os seguintes caracteres: olhos negros ou pardos, cabelos pretos e pele branca, amorenando fàcilmente sob a ação solar. (Paul Topinard, L'Antropologie).
"Os demais caracteres que lhe são comuns com o Tipo Europeu Louro, são: tez sempre branca nas crianças, barba abundante, cabelos finos, lisos ou ondeados, craneo apresentando um oval de contorno regular, arcadas zigomaticas ocultas, fronte larga na base, sem ser fugidia nem bombeada no vertice, bossas frontais sobresaindo distintamente porém sem excesso, rosto antes oval do que alongado mas sem exagero
dos ossos malares, nariz de ponta fina e paredes laterais reunindo-se em ângulo agúdo, narinas elipticas quasi paralélas, esqueleto do nariz leptorrhineo ou mesorrhico, maxilas e dentes dispostos em uma linha quasi réta, boca pequena, dentes rétos, compridos, branco-azulados ou branco-amarelados, sujeitos á cárie; queixo saliente, orelhas de fórma oval alongada, estatura mediana, peito amplo, espaduas largas, curvatura dos rins bem pronunciada, musculos firmes". (Anibal Mascarenhas, História do Brasil).
Acrescenta o autor citado: — "Estes os principais caracteres do Tipo Europeu Moreno; no português, porém, que é o resultado de numerosos cruzamentos, todos estes caracteres são muito variados".
O quanto pódem afirmar os estudiosos da origem dos primeiros povos que ingressaram na peninsula ibérica e se amalgamaram com os nativos aí encontrados, esses povos foram os Iberos, da raça uralo-altaica, do tronco turano com vestígios no dialeto euskara ainda falado entre camponêses espanhóes das Vascongadas.
Outras migrações se sucederam na peninsula, arianas e semíticas.
Cronologicamente, a começar das mais antigas, foram aí ter os celtas, os fenicios, os gregos, os cartagineses (libiocos-fenicios), os romanos, os suevos, os godos e os arabes.
As raças principais formadoras do tipo étnico Português, foram a Ibera, dominante em 85% da população, a Nórdica (Minho, Douro, Tras os Montes e as duas Beiras, donde procediam numerosos dos nossos povoadores seicentistas), Celta ou celtizados (14% da população, sendo o Minho o seu centro de maior frequencia) influencias semiticas dos Arabes no Alentejo, dos Fenicios nas costas do litoral, dos Judeus de tipo armenoide e negroides berberizados Mouros, em tipos isolados, manifestações de atavismo; os tipos germanoides que na proporção de 5% apareceram entre os recrutas de 1917, segundo verificaram antropologistas americanos.
As do tipo Espanhól são as mesmas; os tipos germanoides, entre os recrutas espanhóes, segundo os antropologistas Yoke e Yokun, foram verificados na proporção de 10%.
*** A constituição do direito português, bem como a do espanhól, procede principalmente de três origens: o romano, o germânico e o canonico, aliás formadoras das leis gerais entre todas as nações modernas. (Vide, para melhor estudo desta matéria, a História do Direito Nacional de Martins Júnior e Raças Históricas da Peninsula Ibérica e sua Influência no Direito Português de Julio de Vilhena).
*** A língua portuguêsa, como a espanhóla, pertence ao grupo das línguas neo-latinas ou romanicas. "Constituiu-se sobre um fundo de latim barbaro e com elementos subtraídos ás línguas dos diversos povos que peregrinaram pela peninsula Ibérica ou desta região fizeram a última estação do seu movimento migratório. (Anibal Mascarenhas, História do Brasil).
A literatura, a partir da independencia do condado de Porto Cale até a passagem de Portugal para os domínios de Castela, póde-se dividir em três épocas: — a dos trovadores (séculos XII a XIV), a dos poetas palacianos (século XV) e a dos quinhentistas (século XVI), da renascença do espirito clássico que se vinha elaborando nos conventos e na universidade de Coimbra desde a independencia do país.
Esta última fase (1500-1581) foi a da luta entre o classissismo e a literatura popular ou medicoica do lirismo provençal de fórmas galezianas dos trovadores.
No século XVI surge Camões com os Luziadas, o poema padrão do gênio português e assinala, em páginas luminosas, a entrada triunfal da literatura portuguêsa na arena das conquistas intelectuais da humanidade.
É o século dos historiadores e dos clássicos da língua, — Damião de Góes, Fernão Lopes, Antonio Galvão, João de Barros, Diogo do Couto, do Teátro de Gil Vicente. Mas é também o século da inquisição, que, dominando Portugal, interrompeu o surto das letras e das artes. (Vide, para melhor estudo desta matéria a História da Literatura Portuguêsa de Teófilo Braga).
*** Nas artes sobressái a arquitetura sobre a pintura e principalmente sobre a musica.
Os estilos arabes e romanos começam a ser influenciados pelo gótico, embora ainda confusamente, no mosteiro de Leça do Balio, até que a Igreja da Batalha marca, nas suas filigranas e rendilhas de granito, nas louçanias de suas ogivas, flechas e arabescos, na estatuária grave e magestosa, — a presença de um dos mais belos monumentos góticos da Europa,"na mesma linha das catedrais de Strasburgo, Colonia,
Notre Dame e York". (Anibal Mascarenhas, Curso de História do Brasil).
Na pintura, Grão Vasco (última metade do século XV) havia se destacado genialmente sobre os demais pintores secundarios, decorando a Sé de Vizeu, e arte da iluminura ainda no século XVI repetia artistas de mérito.
A musica quinhentista ainda era muito primitiva, variando entre as fórmas ingênuas ou místicas das melopéas populares e do cantochão conventual.
*** Ao tempo do descobrimento e da colonisação do Brasil, o povo português se achava dominado por uma fé ardente e constante na religião cristã. O cristianismo presidia todas as suas manifestações, individuais e coletivas, até mesmo as de caráter político.
Suas proprias excursões temerarias por mares e terras distantes, eram impelidas pelo desejo de levar a cruz de Cristo e os seus ensinamentos ao seio do gentilismo.
Os seus artistas eram inspirados pelas cenas da Idade Média. Seus nautas e seus soldados partiam como se fossem para uma verdadeira Cruzada da Fé e por toda a parte, entre todas as classes, entre todas as inteligencias, da mais rude á mais culta, "a devoção religiosa exteriorisava esse subjetivismo religioso em complicado culto e variadas práticas místicas" — escreve o autor acima citado. Mas juntamente com a fé na religião consagrada e oficial, acrescenta, — "era geral a crença em uma infinidade de superstições".
Os feiticeiros, as bruxas, os lobishomens, as mulas sem cabeça, as sereias, as almas do outro mundo, povoavam a imaginação do povo — e toda essa família estranha foi transportada para o Brasil, onde veio cruzar os sacis, os currupiras, as oiáras da grei cabocla.
MARTINS, Romário. História do Paraná. Empresa Gráfica Paranaense, Curitiba-PR,
1937. pág. 178. |